Em setembro de 2020, a socialite Kourtney Kardashian compartilhou um artigo sobre o que é ser autossexual, repercutindo na imprensa e nas redes sociais. Pouco falado, o termo surgido no final dos anos 1980 suscitou muitas dúvidas.
Mais recentemente, a musa da escola de samba Colorado do Brás, a modelo Luana Sandien, também declarou-se como autossexual.
“Para mim, ser autossexual é sentir tanto amor próprio que não sinto saudades ou necessidades de estar com alguém. Mesmo na relação íntima sinto muitas vezes que sinto mais prazer sozinha. Mesmo se estou com alguém, na verdade sinto prazer por mim mesma, sinto que eu sou quem me dá prazer e não a outra pessoa. Me chamam de egoísta!“, disse Luana em entrevista publicada no G1.
Como é possível observar na fala da modelo que desfilou no carnaval paulista, há bastante incompreensão sobre a autossexualidade. Aqui, explicamos alguns pontos importantes sobre esse termo.
Termo existe desde 1989
Ao G1, a sexóloga Lelah Monteiro definiu a autossexualidade como sendo a capacidade de o indivíduo reconhecer a si mesmo como seu próprio e principal objeto de desejo.
O termo já aparecia no final do século XIX, na obra do sexólogo britânico Havelock Ellis. Naquele contexto, ele definiu aquilo que chamava de “autoerotismo”. Para trata-se de um “fenômeno da emoção sexual espontânea gerada na ausência de um estímulo externo que procede, direta ou indiretamente, de outra pessoa”.
Um século depois, em 1989, o termo aparece pela primeira vez na literatura médica. Ele veio na obra do terapeuta sexual Bernard Apfelbaum. Ele definiu a autossexualidade como a dificuldade de sentir atração sexual por outras pessoas, com o interesse e o desejo voltados para si mesmo.
Contudo, é equivocado definir a autossexualidade como incapacidade de sentir atração sexual por outras pessoas. Pelo contrário, autossexuais sentem atração por outras pessoas, mas com certas particularidades. Explica Lelah Monteiro:
“A autossexualidade é: ‘Eu me basto sexualmente, mas posso ter um relacionamento heterossexual ou homossexual’. Pode ou não ser algo isolado, mas o que a gente vê mais no dia a dia são pessoas que não têm coragem de assumir que se gostam, apesar de também gostarem de ter um companheiro”, disse ao G1.
Autossexualidade é um espectro
Dentro do amplo espectro da assexualidade, a autossexualidade é um deles. Mais que isso, existem inúmeros espectros do que se define como autossexual.

A maioria das pessoas incorpora a autossexualidade a um repertório sexual mais amplo, que também inclui ser ativada por parceiros. Contudo, algumas pessoas que se definem dentro desse espectro podem ser autossexuais exclusivos (as), não sentindo atração por outras pessoas.
Não se trata de narcisismo, tampouco vício em masturbação
Outro equívoco comum é reduzir a autossexualidade a um vício em masturbação ou simplesmente algum narcisismo exacerbado.
Lelah Monteiro explica no G1 que o “narcisista tem questões psíquicas da necessidade de se autoafirmar e o outro reconhecer”, sendo “mais uma questão de reconhecimento, uma necessidade ser validado.” Por sua vez, o autossexual “entra no contexto de eu ser suficiente”, Assim, o “autossexual é aquele que tem a si mesmo como seu principal objeto de desejo”, não estando isso ligado a uma necessidade de validação.
É uma orientação sexual?
Não existe consenso na literatura de que a assexualidade define uma orientação sexual. É possível que o desejo centrado em si mesmo(a) em alguns momentos da vida conviva, por exemplo, com atração emocional e romântica com outras pessoas, por exemplo.

Na coluna Boa Forma, da Abril, há uma lista de sinais de que uma pessoa pode ser autossexual. Ela pode ser lida aqui.